domingo, 19 de abril de 2009

Sem condução, sem respeito...

Voltando para minha cidade, Conselheiro Lafaiete, um fato gerou a minha indignação.
Sentada no ponto do ônibus, à espera do veículo que me levaria para casa, e sempre atenta ao ambiente e às pessoas que ali se encontravam, fui surpreendida por uma situação constrangedora. Não para mim, que era mais uma em meio a uma multidão impaciente pela espera do ônibus, mas para mim, uma cidadã, que como todos têm seus direitos e deveres, e ao presenciar tal situação se sentiu totalmente desrespeitada.
O sistema de transporte coletivo aqui é realizado por uma única empresa e por tanto, não encontra concorrência e nem motivos para sua melhoria. Bom, fato este, que muitos veículos encontram-se em más condições de manutenção, com poltronas sujas, poucos lugares para idosos e nenhum lugar para deficientes físicos. Alguns poucos veículos, estes mais novos, possuem um sistema de elevador, para ajudar na subida e acesso de cadeirantes ao interior do ônibus.
Assim como tantas pessoas, uma mulher em uma cadeira de rodas estava à espera de sua condução. Após muito tempo, o ônibus parou no ponto e os passageiros puderam entrar. A mulher ficou ali, esperando o elevador, para que pudesse entrar também. Mas nada aconteceu. Ela pediu. Conversou. Gritou. Recebeu como resposta um simples “não está funcionando...” e foi largada ali, no meio da rua. Ninguém percebeu, ou melhor, ninguém fez questão de perceber. O que importa uma única pessoa, sendo que a maioria conseguiu tomar o ônibus e voltar para casa? Mas esse fato tem importância a partir do momento em que nos encontramos na posição de cidadãos que pagam por um serviço insatisfatório e na condição de seres humanos, que merecem respeito e um bom tratamento. É uma pena que o serviço de transporte seja tão precário e que a população não tenha uma melhor opção para chegar ao trabalho ou voltar para casa. Depois de um duro dia de trabalho, o que se espera é ter o mínimo de conforto e preocupação na volta ao lar. Mas não acontece. Além de maus tratos, temos que nos acostumar ao preconceito. E aí, como ficamos? Sim, algo deve ser feito, mas não será. Quem pode tentar fazer algo, nem ônibus pega. Preferem o ambiente dos ares, bem acima e longe da população mais pobre.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Bethânia...

Bom, para abrir a série de produções, escolhi um texto que gostei muito de fazer. Fui a um evento realizado pela UFMG, em que a cantora Maria Bethânia se apresentou, fazendo a leitura de textos e poemas de vários auotores. Segue abaixo o resultado...



A cantora Maria Bethânia abriu a edição 2009 do projeto "sentimentos do Mundo", da UFMG, com a leitura de textos e poemas de escritores famosos, como Clarice Lispector, Guimarães Rosa e Fernando Pessoa, além de autores desconhecidos.



"Os nomes dos poetas populares deveriam estar na boca do povo" - entona Bethânia ao citar Antonio Vieira.
As luzes se apagam. O cenário é simples, decorado pela própria cantora que trouxe o tapete usado em sua religião (Bethânia foi criada na religião católica, teve influência do candomblé e é adepta do seguimento africano Ketu), juntamente com seu microfone e uma estante. Na mesa ao lado, uma rosinha de Santa Terezinha, presente da amiga e professora do curso de Letras da UFMG Lúcia Castello Branco, convidada para fazer a abertura do espetáculo e que trabalha com Bethânia, desde 2006, no projeto de um documentário sobre literatura, que tem como objetivo mostrar a relação da cantora com o universo literário.
No palco Bethânia está em casa. A artista que dispensa apresentações (embora o texto lido por Lúcia retratasse o perfil de uma certa "cantora de leitura") está com os pés nus assim como a própria arte que ela realiza. Em sua boca os textos escritos por Pessoa, Clarice e Rosa se despem de seus sentidos originais e vão ganhando novas formas e interpretações. Os poemas se fundem às músicas cantadas à capela até se tornarem um só, tamanha intimidade que Bethânia possui com os mesmos. "É como se fosse dela. Ela assina, ela edita.Para mim, isso é uma escrita, tanto que eu digo que ela é uma escritora" - ressalta Lúcia Castello Branco.
Bethânia não se faz de rogada: "Creio que me fizeram esse convite porque ouso em cena. Além de cantar, me expresso também com a palavra falada." E assim explica sua paixão pela leitura e interpretação - "Não sou atriz, mas gosto de emprestar a minha vida, minha voz aos personagens, às histórias que os autores nos revelam, isso desde muito, muito cedo."
Com gestos fortes declama "Comida", dos Titãs: " a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte." - "Acho que o meu trabalho é artístico, quer dizer, acho que é uma contribuição trazer a arte para dentro de uma casa de ensino. (...) aqui é um espaço diferente do que estou acostumada, mas afinal, também é um lugar de aprendizado, como o palco." - avalia a cantora.
Com aproximadamente uma hora de espetáculo, Bethânia surpreedeu a todos (promotores do evento, professores, alunos, convidados) ao ir além dos objetivos propostos pelo projeto. "A intenção era mostrar o que significa o transporte de você ficar ali, sentado, ouvindo poesia com alguém que sabe ler e tem essa paixão. Mas eu não imaginei, primeiro, que a Bethânia fosse fazer um show, porque ela fez um show." - comentou Lúcia Castello Branco ao fim da apresentação.
Após a leitura de vários autores Bethânia se encaminha para o fechamento. Cita Guimarães Rosa: "Às vezes, quase sempre, um livro é maior que a gente." O público, fascinado com o que acabara de presenciar, responde com o silêncio. Em meio a essa atitude, Bethânia brinca: "Vocês não vão aplaudir Rosa?!"

Estou perplexa até agora com o que vi. A grandeza de Bethânia é algo fascinate. Em meio a essa admiração, não poderia deixar de escrever, ou melhor, descrever, esse evento tão maravilhoso.

Escrever

Passar o tempo ou aproveitá-lo?
Inventar a realidade ou transcrevê-la?
Ainda não sei. Só sei escrever.