sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Hoje é o último dia do ano

O último dia do ano é o dia mais triste do mundo, porque, diferente dos outros dias, ele não é vivido. Ele simplesmente é esquecido por todos. No último dia do ano, passamos o dia todo ou vivendo os outros dias que passaram ou vivendo (sonhando) os dias que virão. Assim, prefiro dizer que o ano não tem 365 dias, mas 364 ou 366. Depende se você vive no passado ou no futuro.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Em casa, ao som de Nara Leão

Ao som de Nara Leão vou escrevendo pela tarde. Estou, enfim, em casa. Tenho de volta meu quarto, meus cadernos, minha TV que insiste em falar enquanto durmo. Mas é isso mesmo o que quero? Sinto vergonha ao pensar que não. Não me reconheço mais nos livros na estante, na cortina queimada por uma vela que acendi para o anjo da guarda. Não me reconheço mais nas fotos na parede. Mudei tanto assim? Não me reconheço mais nos velhos conhecidos que se lembram de quando eu era pequena. Não me reconheço mais na filha de fulana, neta de fulana. Onde estou, estou sozinha (pela primeira vez sou eu) e tenho vergonha em pensar que gostei de ser eu. Escolho a comida que tem no restaurante e não mais como porque é bom para a saúde. Se passo mal, tomo remédio. Dormir não tem hora. Enfrento a fila do banco, passo na padaria, convido os amigos para uma rodada de cerveja e uma pizza ao som de Janis Joplin e tudo está certo. Invento minha própria diversão. Leio cinco livros de uma vez. Tomo banho quente e abro a geladeira. Não dou o recado. Penso em seguir em frente. E ao som de Nara até penso em me perder pela cidade. E só penso: até um dia, até talvez, até quem sabe.