domingo, 15 de novembro de 2009

Diário

Estava triste e sozinha. Há anos largou tudo para cuidar da família. Esqueceu de alimentar os sonhos que davam sentido à sua vida. Abandonou todos os planos para se dedicar às atividades do lar que ocupavam grande parte de seu dia. Não se arrumava para se sentir bem, mas para que o marido se sentisse bem. Mantinha o longo cabelo louro preso em um coque impecável, enquanto o que desejava de verdade era senti-lo atrapalhado pelo vento. Os vestidos bem passados escondiam os fartos seios e os quadris largos. Os pés, sempre inchados, se acomodavam em sapatos baixos e velhos. Tornara-se a mulher perfeita. A comida pontual e deliciosamente à mesa. As roupas cheirosas esperavam para serem recolhidas do varal. A casa limpa e perfumada era o cenário perfeito para receber os grandes empresários. As crianças bem educadas cresceram. Saíram de casa e mal conversavam com ela. O marido chegava cada dia mais tarde. Agora estava velha, cansada de uma vida que não lhe pertencia. Esqueceu de alimentar os sonhos que davam sentido à sua vida, afinal, escolhas assim só aconteciam uma única vez. Agora estava triste. Triste e sozinha. Arrependida, jamais.

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