domingo, 12 de julho de 2009

Para pensar



Estamos sem água. Foi a primeira coisa que ouviu ao chegar a casa na sexta-feira à noite. Colocou as chaves sobre a mesa e foi para o quarto. Tudo bem. Estamos sem água. Repetia a frase sem se preocupar. Já havia tomado banho mesmo e certamente, em algumas horas, a água já estaria de volta.
O problema é um cano estourado na outra rua. Ouviu de relance ao passar perto do telefone. Mais uma vez nem se importou. Foi até a cozinha e... Susto! Já havia se passado boas horas e nada de água. Até o momento, para ela, estava tudo normal. Mas agora já era demais, talvez porque a necessidade batia em sua porta. E os dentes, como eu vou escovar os dentes? Tentou em todos os lugares: banheiros, cozinha, área de serviços. O jeito era apelar para o filtro.
Evite usar o vaso. O quê? Ainda estava sonolenta e por isso devia ter escutado mal. Não. Era isso mesmo. Sábado de manhã e... Sem água. Meu Deus! Entrou em pânico. A pia cheia de louça suja, que ninguém poupara na noite anterior. Sem jeito de tomar banho. A descarga, nem um pingo. E a mãe gritava para não usar o banheiro. Todos contavam com o reparo do cano e... Sem água por tempo indeterminado.
Pegou a água do vizinho. Não acreditou. É a solução. O vizinho viajara e deixara a chave de casa com o avô, para que ele recolhesse as correspondências, mas com o aperto, o avô aproveitou para recolher algo a mais. A caixa tá cheia. Traz o balde. Foi um tal de passar balde por cima do muro. Sim, por cima do muro. Não queriam que os outros vizinhos descobrissem a mina de ouro, ou melhor, de água. Mas, e o banho?
Pega mais um pouco que é pra menina tomar banho de caneco. Que situação! Como se não bastasse roubar água, o banho ainda seria de caneco! Pelada em pleno inverno e de caneco na mão.
Agora percebia o quanto fazia falta. Ficou imaginando o mundo sem ela. Se os vizinhos não poderiam saber da água roubada, para evitar brigas durante algumas horas na rua, o que aconteceria no mundo inteiro? Uma guerra mundial. Sem nem ter a opção de tomar banho de caneco, pessoas matariam por algo, que hoje, é considerado fonte INESGOTÁVEL de vida. Ninguém se preocupa... Até perder – escreveu no caderno. Continuou:
Para se evitar uma situação dessas é melhor poupar. Banhos reduzidos, reaproveitamento...
Voltou. A água voltou!
Foi interrompida. Ela sabia que uma hora isso iria acontecer. Fechou o caderno e continuou sua vida, sem se importar. Até que...
Estamos sem água!

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