Essa é a história da menina que queria ser tudo ao mesmo tempo, que queria ter tudo ao mesmo tempo, que queria fazer tudo ao mesmo tempo. A mãe dessa menina sempre dizia (como dizem todas as mães para proteger suas crias) que ela queria abraçar o mundo. E a menina achava normal. O mundo era grande, mas ela conhecia pouco do mundo e o que ela conhecia mesmo, na sua pequena visão, era possível de ser abraçado. E ela ia com muita vontade, arriscando tudo de uma forma que só os jovens são capazes de arriscar. Se existia medo, ele estava justamente na parte do mundo que ela não conhecia. O mundo da mãe era maior, cheio de experiências, de tombos, de recaídas, de acertos. Um mundo construído por quem um dia já quis abraçá-lo. E era por isso que a mãe dizia com tanta firmeza pra menina ir devagar. Mas devagar também ficava na parte desconhecida. E a parte desconhecida só pode ser descoberta por quem a desconhece, não adianta avisar. Quem já conhece, pela melhor das intenções, é incapaz de mostrá-la a qualquer outra pessoa porque a parte desconhecida é de cada um. O mundo é de cada um. Não existe mundo igual. E os braços que vão abraçar também são únicos. E o abraço é único. Logo o abraço, algo feito para acolher, para proteger, para ninar, não alcança o mundo. Logo o abraço, aquele que aproxima e que une, deixa o mundo tão distante. É que o mundo não foi feito para abraços. Não foi feito para ser abraçado. E a menina, por não saber disso, queria abraçar o mundo. Queria envolvê-lo em seus bracinhos e aproveitá-lo. E admirá-lo. E possuí-lo. Mas o mundo não podia ser possuído justamente porque existia o desconhecido. E o desconhecido era a parte ruim do mundo. Mas a menina não tinha medo e continuou tentando ser tudo. Queria andar a pé, mas queria dirigir. Queria estudar, mas queria namorar também. Queria ler todos os livros e ouvir todas as músicas. Queria tomar banho de sol, mas queria que chovesse. Queria estar na praia, mas gostava da rua. Queria ajudar as pessoas que precisavam dela. E tudo ao mesmo tempo. É que o tempo também estava na parte desconhecida. Bem, a menina já tinha ouvido falar dele, mas falar só não adianta. E a menina desafiou o tempo. Desafiou o desconhecido. E então o desconhecido aconteceu. A menina conheceu o medo. O medo e o tempo. O medo do tempo. E teve medo de perder o tempo, e tempo de sentir medo. A menina percebeu que eles andavam juntos, que não se separavam nunca. E aí quis abraçar o desconhecido já conhecido. Mas foi ela a abraçada. Engolida. Devorada. Sofreu muito. Chorou muito quando sentiu seu abraço rejeitado. E tentou fugir. Correu para os braços da mãe. Os mesmos braços que também tentaram abraçar o mundo, dessa vez, não foram rejeitados. Porque as mães, essas sim são feitas para abraçar. E a menina não se sentiu sozinha. Deixou-se abraçar e proteger-se. Aninhou-se naquele abraço e de lá não quis sair mais. Tinha medo agora. Mas o tempo também ensina. Ensina que o medo faz parte da vida e que o tempo não tem todo o tempo do mundo. E que o mundo é muito grande e perigoso. Mas que conhecendo o desconhecido do mundo, um dia será possível abraçar. Não abraçar o mundo, porque ele realmente é muito grande, mas abraçar aquele que o mundo rejeitou um dia.
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