quarta-feira, 21 de abril de 2010

Da janela...

Cheguei em casa muito cansada, com muitas coisas para fazer, sem paciência, com muitas frustrações, com muita esperança. Coloquei Chico Buarque para tocar enquanto, parada em frente a janela, observava outras janelas. Observava novas vidas na esperança de encontrar nessas vidas a solução para uma única vida. No prédio da frente um homem de camisa amarela e cabeça branca também parecia preocupado. Observava com atenção, procurava algo muito difícil de achar. Será que perdeu um objeto muito querido ou o dinheiro que reservara para pagar as contas? Ou perdera os óculos? Ou ele nem usa óculos? Ou enfim, perdera o rumo da própria vida. Na janela abaixo do homem uma criança brincava despreocupada. A brincadeira parecia muito interessante. A mãe passa, fala alguma coisa e a menina permanece ali, entretida com as peças do novo brinquedo. Grandes peças coloridas são colocadas uma em cima da outra. Será que ela constrói um prédio? Rosa, azul, amarelo, verde. Ou será que está construindo a própria vida? Mais abaixo uma mulher conversava ao telefone. Parecia brigar. Não estava tranqüila. A tranqüilidade passa longe de seu rosto, que estampa olhos cheios de lágrimas. A notícia certamente é ruim. Será que brigou com alguém especial ou apenas está desabafando? Será que perdeu mais do que algo especial? A vida deve estar difícil. E enquanto Chico Buarque invade o quarto com suas canções, percebo que o dia está acabando. A tarde se vai e a noite chega de mansinho. Um avião passa e no instante em que paro para olhá-lo, percebo que todas as janelas já se fecharam. Só a minha está aberta. Todas as vidas já foram achadas, construídas, choradas. Só a minha ainda está por aí. Então eu fecho a janela ao mesmo tempo em que Chico se cala. E fico presa em meus pensamentos. E nessa hora já esqueci tudo. Já vou deitar porque ainda estou cansada. Não sei o que fazer e se vou dar conta de fazer. A paciência eu já não sei se foi perdida. As frustrações são as mesmas. A esperança ainda está lá. E a vida deve estar vagando por aí... Quem sabe pulou alguma janela e entrou na vida de outra pessoa? Quem sabe a vida de outra pessoa não pulou a minha janela e entrou na minha vida?

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