Talvez seja o próprio nome. Não é doloroso como Segunda-feira. Normal como terça-feira. Esperançoso como quarta. Não causa expectativa como a quinta-feira ou mesmo entusiasmo como a sexta. Não é maravilhoso como o sábado. É apenas domingo. E no domingo tudo parece mais lento. O Sol demora a nascer e demora a se pôr. A chuva não tem pressa de cessar e o vento se prolonga por toda a manhã. Domingo o mar vive de ressaca. Os peixes se escondem. Os pássaros, com preguiça, cantam timidamente. As flores nem pensam em se abrir. Os carros descansam nas garagens, janelas e portas ficam trancadas. As ruas aproveitam para adormecer. Mas há os que trabalham no domingo. As camas perdem a hora, a T.V é acompanhada e é acompanhante. As caixas contendo recortes de jornais, cartas de amor, fotos antigas, velhos brinquedos e vestidos de noiva são abertas e permanecem abertas por tempo indeterminado, afinal, é domingo. Domingo não tem hora. Domingo não tem dono. Domingo é diferente para cada um e por isso é tão especial. Domingo criança acorda tarde, mas dorme cedo. Domingo é casa de vó. É encontro com os primos. É namoro no portão. Domingo os rádios e vitrolas cantam o amor. Domingo a felicidade é prolongada e a tristeza fica pequena. Domingo é dia de gol. É dia do cachorro passear. Domingo é pra ler jornal, é pra ler livro e pra deitar na rede. Domingo tem circo e tem teatro. Domingo é do pijama, do cabelo enrolado, da boca sem batom. Domingo tem violão e tem risos. Domingo tem pizza e tem sono. Domingo tem tanta coisa e se estende tanto que a dor perde o espaço. Os amores vão embora e nem percebem. Mas é só porque é domingo. Pois segunda tudo vai ficar mais doloroso e na terça talvez o mundo acabe. Não haverá mais lágrimas pra chorar na quarta e na quinta a saudade apertará. A sexta será solidão e o sábado pranto. Mas aí será domingo. Apenas domingo...
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
Para ler aos domingos
Talvez seja o próprio nome. Não é doloroso como Segunda-feira. Normal como terça-feira. Esperançoso como quarta. Não causa expectativa como a quinta-feira ou mesmo entusiasmo como a sexta. Não é maravilhoso como o sábado. É apenas domingo. E no domingo tudo parece mais lento. O Sol demora a nascer e demora a se pôr. A chuva não tem pressa de cessar e o vento se prolonga por toda a manhã. Domingo o mar vive de ressaca. Os peixes se escondem. Os pássaros, com preguiça, cantam timidamente. As flores nem pensam em se abrir. Os carros descansam nas garagens, janelas e portas ficam trancadas. As ruas aproveitam para adormecer. Mas há os que trabalham no domingo. As camas perdem a hora, a T.V é acompanhada e é acompanhante. As caixas contendo recortes de jornais, cartas de amor, fotos antigas, velhos brinquedos e vestidos de noiva são abertas e permanecem abertas por tempo indeterminado, afinal, é domingo. Domingo não tem hora. Domingo não tem dono. Domingo é diferente para cada um e por isso é tão especial. Domingo criança acorda tarde, mas dorme cedo. Domingo é casa de vó. É encontro com os primos. É namoro no portão. Domingo os rádios e vitrolas cantam o amor. Domingo a felicidade é prolongada e a tristeza fica pequena. Domingo é dia de gol. É dia do cachorro passear. Domingo é pra ler jornal, é pra ler livro e pra deitar na rede. Domingo tem circo e tem teatro. Domingo é do pijama, do cabelo enrolado, da boca sem batom. Domingo tem violão e tem risos. Domingo tem pizza e tem sono. Domingo tem tanta coisa e se estende tanto que a dor perde o espaço. Os amores vão embora e nem percebem. Mas é só porque é domingo. Pois segunda tudo vai ficar mais doloroso e na terça talvez o mundo acabe. Não haverá mais lágrimas pra chorar na quarta e na quinta a saudade apertará. A sexta será solidão e o sábado pranto. Mas aí será domingo. Apenas domingo...
Conselho
E ver quanta coisa mudou
Tá tudo bem por aqui
Só você não reparou.
Você precisa de um dia na praia
Bahia ou Rio, não importa o lugar
Você precisa encontrar sua laia
Viver a vida, aproveitar.
Você precisa do Sol no verão
E de um banho de chuva também
Já te dei a solução:
Saia e vá ser outro alguém.
domingo, 15 de novembro de 2009
Diário
Michael e os pestinhas...
sexta-feira, 31 de julho de 2009
Parei Pra Pensar e...

sábado, 18 de julho de 2009
Michael x Macabéa

O lamentável (em todos os sentidos) episódio da morte do cantor Michael Jackson, me fez lembrar outra história. Assisti a toda cobertura feita pela mídia, inclusive aos inúmeros especiais que exibiam a vida e obra (mais a vida) do astro e o grande espetáculo que foi seu funeral e assim, fui remetida ao último romance escrito por Clarice Lispector, A Hora da Estrela, o qual narra a história de Macabéa, uma moça nordestina que chega ao Rio de Janeiro esperançosa, a fim de tentar a vida na cidade grande.
Mas, em que a morte de Michael se relaciona com o livro de Clarice? Mais ainda, como pode Michael, um artista consagrado e detentor de uma grande fortuna, ter alguma semelhança com a protagonista Macabéa, caracterizada pela própria Clarice como “uma moça tão pobre que só comia cachorro quente”?
Macabéa, durante todo o livro é tratada como mais uma entre tantos retirantes que chegaram ao Rio de Janeiro e por isso, sua história de vida não ganha destaque. Isso muda a partir do momento em que, atropelada por um carro, Macabéa morre. Nessa hora, a protagonista tem sua vida reconhecida. Michael, apesar de ter conquistado lugar de destaque devido ao grande sucesso de suas canções mesclado à sua tumultuada vida fora dos palcos, há muito tempo estava fora dos holofotes. Sem lançar material inédito desde 2001 e com o último escândalo, o julgamento por pedofilia, protagonizado em 2005, o rei do Pop fora esquecido pela mídia. Mas, no dia 25 de junho de 2009, Michael ressurgiu com força total. Ironicamente, assim como a personagem de Clarice, após a sua morte.
É nesse ponto que as duas histórias se relacionam. A hora da estrela, que dá título ao romance, é o momento da morte, quando o ser humano não mais é invisível aos olhos das pessoas, que só percebem o quanto ele é importante e faz falta, quando ele não mais existe.
Infelizmente, Michael passou pela sua hora da estrela, hora esta que vem sendo explorada de todas as formas por pessoas que desejam se promover às suas custas, através de matérias sensacionalistas exibidas em todos os veículos de comunicação e grande marketing em cima dos discos produzidos pelo cantor. O que no princípio poderia ser considerado normal, já que o maior nome da música Pop acabara de falecer e a notícia pegara a todos de forma surpreendente, agora, é considerado exagero e desrespeito ao grande artista que Michael é. A notícia de sua morte foi transformada em espetáculo e sacia a fome por ibope que permeia os órgãos de comunicação.
É certo que Michael, como qualquer grande artista, vendeu muitos discos em vida. Mas, com certeza, esses números não superam as vendagens alcançadas após sua morte. Isso indica que suas músicas são melhores hoje do que quando foram lançadas? Não. Apenas indica que quando estava vivo e podia dar espetáculos para todos em todo o mundo, seu trabalho não era tão reconhecido e valorizado. Hoje, como não pode mais cantar, teve suas canções imortalizadas. Com a perda, o mundo percebeu, tardiamente, a falta que Michael fará e corre para comprar todo e qualquer material disponível, como forma de suprir essa falta.
Mais uma vez, a história de Michael esbarra no romance escrito por Clarice Lispector, mais precisamente, no resumo que a autora faz do mesmo: “a história (...) é sobre uma inocência pisada, de uma miséria anônima”, com a pequena diferença de que Michael não é tão anônimo assim.
segunda-feira, 13 de julho de 2009
Pensamento do Dia
domingo, 12 de julho de 2009
Para pensar
O problema é um cano estourado na outra rua. Ouviu de relance ao passar perto do telefone. Mais uma vez nem se importou. Foi até a cozinha e... Susto! Já havia se passado boas horas e nada de água. Até o momento, para ela, estava tudo normal. Mas agora já era demais, talvez porque a necessidade batia em sua porta. E os dentes, como eu vou escovar os dentes? Tentou em todos os lugares: banheiros, cozinha, área de serviços. O jeito era apelar para o filtro.
Evite usar o vaso. O quê? Ainda estava sonolenta e por isso devia ter escutado mal. Não. Era isso mesmo. Sábado de manhã e... Sem água. Meu Deus! Entrou em pânico. A pia cheia de louça suja, que ninguém poupara na noite anterior. Sem jeito de tomar banho. A descarga, nem um pingo. E a mãe gritava para não usar o banheiro. Todos contavam com o reparo do cano e... Sem água por tempo indeterminado.
Pegou a água do vizinho. Não acreditou. É a solução. O vizinho viajara e deixara a chave de casa com o avô, para que ele recolhesse as correspondências, mas com o aperto, o avô aproveitou para recolher algo a mais. A caixa tá cheia. Traz o balde. Foi um tal de passar balde por cima do muro. Sim, por cima do muro. Não queriam que os outros vizinhos descobrissem a mina de ouro, ou melhor, de água. Mas, e o banho?
Pega mais um pouco que é pra menina tomar banho de caneco. Que situação! Como se não bastasse roubar água, o banho ainda seria de caneco! Pelada em pleno inverno e de caneco na mão.
Agora percebia o quanto fazia falta. Ficou imaginando o mundo sem ela. Se os vizinhos não poderiam saber da água roubada, para evitar brigas durante algumas horas na rua, o que aconteceria no mundo inteiro? Uma guerra mundial. Sem nem ter a opção de tomar banho de caneco, pessoas matariam por algo, que hoje, é considerado fonte INESGOTÁVEL de vida. Ninguém se preocupa... Até perder – escreveu no caderno. Continuou: Para se evitar uma situação dessas é melhor poupar. Banhos reduzidos, reaproveitamento...
Voltou. A água voltou! Foi interrompida. Ela sabia que uma hora isso iria acontecer. Fechou o caderno e continuou sua vida, sem se importar. Até que... Estamos sem água!
O Fenômeno da Informação
Gripe Suína
A crise
Diploma de Jornalismo
Vôo 447
Eleições para a presidência e especulações sobre a vida dos possíveis candidatos
50 Anos de Música do Roberto
Ronaldo
Copa das Confederações
Copa do Mundo
Crise no Senado
...
...
...
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Agora é a vez de Michael Jackson. A propósito, o corpo já foi enterrado??
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...
...
E o mundo continua girando... E as notícias continuam passando...
sábado, 20 de junho de 2009
Rita Lee em BH
O relógio marca pontualmente 22h30min quando a rainha do Rock sobe ao palco juntamente com sua trupe, denominada por ela como a “banda dos dalitis” – fazendo referência à casta indiana- e que conta com Roberto de Carvalho e Beto Lee nas guitarras e vocais, Edu Salvitti na bateria, Débora Reis e Rita Kfouri nos vocais, Brenno di Napolli no baixo e Danilo Santana nos teclados.
Rita, como sempre, bem humorada, abre o show com Flagra, acompanhada do princípio ao fim pela platéia. Mesmo fazendo coro, o público não está muito animado, conseqüência da presença de cadeiras (todos estão assentados) e da falta de liberdade que a mesma proporciona ao se tratar de um show de rock com a avó mais animada do país. É visível o desconforto, talvez vergonha, do público devido à questão dos lugares marcados. Já na segunda música, Saúde, alguns esboçam a vontade de se levantar e chegar próximo ao palco, onde a cantora se esbanja entre um acorde e outro. Tentativa frustrada, apenas alguns são corajosos para sair das cadeiras e ocupar um pequeno espaço na lateral da área em frente ao palco. Somente após algumas músicas, que uma grande parte do público resolve levantar-se para cantar e dançar ao som da roqueira.
Já com a platéia dominada, Rita anda, pula e dança sem parar, mostrando que mesmo aos 63 anos de idade, não perdeu o pique e a vontade de fazer um espetáculo cada vez melhor. Em meio a uma música e outra, a cantora para para conversar com o público, faz brincadeiras, conta histórias e comenta a novela, atitude que arranca gargalhadas de sua platéia.
Em meio aos gritos fanáticos do público mineiro, a cantora encerra o show com a já conhecida Ovelha Negra. Após minutos de aplausos, a banda volta ao palco para a sessão de bis. Rita pergunta ao público o que eles querem ouvir, com a resposta em mãos, toca Lança Perfume e Erva Venenosa. Após esboçar sair novamente do palco, volta para mais uma canção, quando com a queda de papeis prateados, a platéia saboreia o último quitute do pic – nic de Rita Lee, oferecido de forma sensacional e divertidíssima ao público mineiro, que com certeza vai dormir satisfeito, contrariando a superstição de que dormir de barriga cheia faz ter pesadelos.
Diploma ou não diploa: eis a questão
Como estudante de jornalismo que sou não seria hipócrita a ponto de aceitar tal decisão. Porém, acredito que assim como as notas não medem o conhecimento de um estudante, o diploma não indica se tratar de um profissional competente. Apesar disso, as notas ainda são critérios de avaliação em todo o país. Entramos então em um descompasso. Por que não abolir esse critério de avaliação? Se for para copiar modelos de outros países (nos EUA jornalismo não é graduação, assim como nota não é critério de avaliação), por que não copiar de forma completa? A resposta é simples: porque estamos falando de Brasil.
É clara a defasagem do país quando o assunto é a educação. Por mais que se queira insistir e acreditar, a educação, no Brasil, não é para todos. As escolas públicas, de forma vergonhosa, passam por dificuldades quanto a material didático de qualidade e condições básicas (salas limpas e espaçosas, quadros, carteiras) para que seja possível para um aluno assistir às aulas de forma digna. Além disso, os profissionais da área de educação são, a cada dia, mais desvalorizados. Basta ver as condições dos professores, que trabalham muito por salários miseráveis. Por conta disso, greves são constantes e é comum a perda de aula por alunos, que não tem culpa dos maus tratos sofridos pelo sistema educacional brasileiro. Em suma, o Brasil não tem a menor condição para seguir modelos educacionais de determinados países.
Querem fazer com o jornalismo o mesmo que fizeram com a educação de nosso país, transformar em lixo e vergonha. Mas, por quê? Novamente, a resposta é simples: porque incomodamos. Sem nenhuma cerimônia, aprendemos, durante o curso, a denunciar as mazelas de nosso país. Aprendemos a ética e a honestidade necessárias para revelar tudo o que há de errado com um país que tem tudo para dar certo, exceto pessoas sérias no poder. Assim, como é cômodo não dar educação de qualidade à grande parcela da população brasileira, já que dessa forma, evita-se o desenvolvimento da intelectualidade e possíveis questionamentos quanto à situação do país, também é cômodo não se permitir que a informação de qualidade faça parte do cotidiano dos brasileiros. Podem achar um absurdo, mas essa é a única justificativa plausível que encontrei, já que as “oficiais” não me convenceram.
“O diploma fere a Constituição de 88 que prevê a liberdade de expressão”. Como, se o diploma não proíbe que qualquer pessoa expresse sua opinião em nossos jornais? Prova disso é que profissionais de diversas áreas, não graduados em jornalismo, publicam textos em jornais e revistas por todo o país.
“O jornalismo é como a culinária, não é preciso diploma para ser cozinheiro e sim, prática”. Não se esqueçam que para cozinhar bem seguimos receitas, que nada mais são do que a teoria. Aprendemos primeiro, para depois praticar. Sim, é fato que nem toda receita dá certo, assim como nem todo jornalista diplomado é qualificado. Vemos todos os dias, matérias inconseqüentes e sensacionalistas circularem nas páginas de vários jornais, isto, porque são feitas por profissionais graduados, imaginem se não fossem? Mas isso também pode ser explicado pela falta de preparo e organização de nosso país. Será que se as empresas jornalísticas, responsáveis pelos grandes veículos de comunicação em circulação no Brasil, fossem de pessoas da área, que entendem as necessidades do jornalismo, ao invés de pertencerem a grandes empreendedores, que visam o lucro acima de tudo, o jornalismo inconseqüente existiria?
Ainda é cedo para se falar nas conseqüências que tal decisão pode gerar. Mas uma coisa é certa, ela poderia ser positiva, caso o Brasil fosse um exemplo em educação, formando cidadãos conscientes e qualificados. Como não é, não seria confiável papéis tão importantes, como formadores de opinião e governantes, nas mãos de qualquer pessoa. Por enquanto o diploma ainda serve como segurança e credibilidade para a divulgação de informações. Quanto à política, ainda bem que não há diploma para isso, assim, evita-se perder mais tempo com esse tipo de assunto, enquanto o país passa por sérias dificuldades. Se bem que seria uma forma para desviar a atenção...
sexta-feira, 12 de junho de 2009
Artista também tem família para criar
Contraditório? Pode até parecer. Mas que deixa uma culpa lá no fundo, ah... Isso deixa! Digo contraditório, pois desconfio que hoje, com todos os atrativos da “rede”, é bem difícil encontrar alguém que não tenha se rendido à comodidade, à facilidade e acima de tudo, à economia dos serviços oferecidos pela internet, não é mesmo, Fiúza?!
Bom, se essa desconfiança não for provada, por favor, apresentem-me ao indivíduo. E se tudo acontecer como geralmente acontece no Brasil, onde quem devolve dinheiro achado na rua vira herói da nação, imagine o qual será o destino de quem nunca “baixou” uma música de forma ilegal? Será canonizado: santo, com direito a feriado nacional em seu nome e no mínimo uma semana de festas! Além disso, terá computador tombado como patrimônio histórico da humanidade!
Se artista tem família para sustentar, quem dirá os milhões de brasileiros de classe média que estão bem à margem da distribuição de riquezas no país. Como diz a letra daquela velha banda, “a gente não quer só comida/ a gente quer comida, diversão e arte”. Se é assim, por que a arte não pode chegar de forma plena e acessível a toda a população? Isso, claro, sem prejudicar a classe artística. Afinal, eles também têm esposa, cinco filhos pra criar, cachorro, gato, papagaio, periquito...
sábado, 23 de maio de 2009
Outros [doces] Bárbaros
Final de semana doce e bárbaro
O que se pode esperar de um final de semana com chuva e uma ida ao supermercado?
Pois num sábado à noite, quando decidi fazer compras, eis que me deparo com uma sessão de DVDs, bem escondida, num canto do supermercado. Após verificar cada um, fui tomada por uma grata surpresa: o DVD Outros [doces] Bárbaros com um custo de inacreditáveis R$10,00.
Foi assim que o encontro de Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e Maria Bethânia, filmado pela Conspiração Filmes em parceria com a Biscoito Fino, veio parar em minhas mãos.
Com um repertório muito bem selecionado, o DVD registra momentos do ensaio para os shows na Praia de Copacabana (Rio) e no Parque do Ibirapuera (SP), coletiva de imprensa e partes dos shows, tudo realizado no ano de 2002, após 26 anos da primeira gravação do encontro dos quatro artistas que melhor representam a música popular no Brasil.
Gil, muito inspirado, cuida da produção musical do show e lidera os ensaios da trupe, participando de momentos hilários, como uma pequena discussão com Bethânia sobre a forma de divisão de uma música que seria cantada pelos quatro.
Bethânia, por sinal, afirma sua personalidade forte, dando grandes e fundamentais palpites na montagem e escolha das canções. A baiana se mostra muito mais brincalhona e sorridente do que de costume. Assim, podemos perceber que o clima é de pura alegria e descontração, o que só afirma a intimidade e afinação existentes entre o grupo desde tempos passados.
Caetano, mais do que os outros, cuida da parte intelectual do grupo. É ele quem responde a maior parte das perguntas feitas durante a coletiva (ficando bravo em alguns instantes, mas nunca perdendo o bom humor, que é contagiante em todo o DVD) e assume um pouco a postura de líder, de representante do bando.
Gal, apesar de poucas palavras, também faz graça. Atenta a todas as decisões, não perde o momento de contar histórias engraçadas e rir da teimosia de Gil frente a uma afirmação de Bethânia.
No palco, os quatro presenciam momentos emocionantes e retomam o mesmo entusiasmo de antes, quando cantavam contra a repressão existente devido ao período de ditadura que se instalou sobre o Brasil. Destaque para as músicas “O Seu amor”, composição de Gil, que faz uma jogada com o lema do regime “Brasil, ame-o ou deixe-o”, trocando-o por “O seu amor, ame-o e deixe-o livre para amar” e também para “Esotérico” interpretada de forma delicada e leve somente pelas meninas do grupo.
Para afirmar a alegria, que como já disse, é contagiante durante todo o filme, destacam-se “Antonio” e "Gênesis".Para fechar, uma canção nova, intitulada “Outros Bárbaros” (daí o nome do DVD), composição de Gil que fala sobre o atual momento de reencontro dos velhos, doces e bárbaros amigos baianos.
Outros [doces] Bárbaros é uma fascinante e emocionante opção para se revisitar grandes momentos da MPB. Um grande programa para um final de semana com chuva, do qual não se espera nada.
domingo, 19 de abril de 2009
Sem condução, sem respeito...
Sentada no ponto do ônibus, à espera do veículo que me levaria para casa, e sempre atenta ao ambiente e às pessoas que ali se encontravam, fui surpreendida por uma situação constrangedora. Não para mim, que era mais uma em meio a uma multidão impaciente pela espera do ônibus, mas para mim, uma cidadã, que como todos têm seus direitos e deveres, e ao presenciar tal situação se sentiu totalmente desrespeitada.
O sistema de transporte coletivo aqui é realizado por uma única empresa e por tanto, não encontra concorrência e nem motivos para sua melhoria. Bom, fato este, que muitos veículos encontram-se em más condições de manutenção, com poltronas sujas, poucos lugares para idosos e nenhum lugar para deficientes físicos. Alguns poucos veículos, estes mais novos, possuem um sistema de elevador, para ajudar na subida e acesso de cadeirantes ao interior do ônibus.
Assim como tantas pessoas, uma mulher em uma cadeira de rodas estava à espera de sua condução. Após muito tempo, o ônibus parou no ponto e os passageiros puderam entrar. A mulher ficou ali, esperando o elevador, para que pudesse entrar também. Mas nada aconteceu. Ela pediu. Conversou. Gritou. Recebeu como resposta um simples “não está funcionando...” e foi largada ali, no meio da rua. Ninguém percebeu, ou melhor, ninguém fez questão de perceber. O que importa uma única pessoa, sendo que a maioria conseguiu tomar o ônibus e voltar para casa? Mas esse fato tem importância a partir do momento em que nos encontramos na posição de cidadãos que pagam por um serviço insatisfatório e na condição de seres humanos, que merecem respeito e um bom tratamento. É uma pena que o serviço de transporte seja tão precário e que a população não tenha uma melhor opção para chegar ao trabalho ou voltar para casa. Depois de um duro dia de trabalho, o que se espera é ter o mínimo de conforto e preocupação na volta ao lar. Mas não acontece. Além de maus tratos, temos que nos acostumar ao preconceito. E aí, como ficamos? Sim, algo deve ser feito, mas não será. Quem pode tentar fazer algo, nem ônibus pega. Preferem o ambiente dos ares, bem acima e longe da população mais pobre.
sexta-feira, 3 de abril de 2009
Bethânia...
A cantora Maria Bethânia abriu a edição 2009 do projeto "sentimentos do Mundo", da UFMG, com a leitura de textos e poemas de escritores famosos, como Clarice Lispector, Guimarães Rosa e Fernando Pessoa, além de autores desconhecidos.
"Os nomes dos poetas populares deveriam estar na boca do povo" - entona Bethânia ao citar Antonio Vieira.
As luzes se apagam. O cenário é simples, decorado pela própria cantora que trouxe o tapete usado em sua religião (Bethânia foi criada na religião católica, teve influência do candomblé e é adepta do seguimento africano Ketu), juntamente com seu microfone e uma estante. Na mesa ao lado, uma rosinha de Santa Terezinha, presente da amiga e professora do curso de Letras da UFMG Lúcia Castello Branco, convidada para fazer a abertura do espetáculo e que trabalha com Bethânia, desde 2006, no projeto de um documentário sobre literatura, que tem como objetivo mostrar a relação da cantora com o universo literário.
No palco Bethânia está em casa. A artista que dispensa apresentações (embora o texto lido por Lúcia retratasse o perfil de uma certa "cantora de leitura") está com os pés nus assim como a própria arte que ela realiza. Em sua boca os textos escritos por Pessoa, Clarice e Rosa se despem de seus sentidos originais e vão ganhando novas formas e interpretações. Os poemas se fundem às músicas cantadas à capela até se tornarem um só, tamanha intimidade que Bethânia possui com os mesmos. "É como se fosse dela. Ela assina, ela edita.Para mim, isso é uma escrita, tanto que eu digo que ela é uma escritora" - ressalta Lúcia Castello Branco.
Bethânia não se faz de rogada: "Creio que me fizeram esse convite porque ouso em cena. Além de cantar, me expresso também com a palavra falada." E assim explica sua paixão pela leitura e interpretação - "Não sou atriz, mas gosto de emprestar a minha vida, minha voz aos personagens, às histórias que os autores nos revelam, isso desde muito, muito cedo."
Com gestos fortes declama "Comida", dos Titãs: " a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte." - "Acho que o meu trabalho é artístico, quer dizer, acho que é uma contribuição trazer a arte para dentro de uma casa de ensino. (...) aqui é um espaço diferente do que estou acostumada, mas afinal, também é um lugar de aprendizado, como o palco." - avalia a cantora.
Com aproximadamente uma hora de espetáculo, Bethânia surpreedeu a todos (promotores do evento, professores, alunos, convidados) ao ir além dos objetivos propostos pelo projeto. "A intenção era mostrar o que significa o transporte de você ficar ali, sentado, ouvindo poesia com alguém que sabe ler e tem essa paixão. Mas eu não imaginei, primeiro, que a Bethânia fosse fazer um show, porque ela fez um show." - comentou Lúcia Castello Branco ao fim da apresentação.
Após a leitura de vários autores Bethânia se encaminha para o fechamento. Cita Guimarães Rosa: "Às vezes, quase sempre, um livro é maior que a gente." O público, fascinado com o que acabara de presenciar, responde com o silêncio. Em meio a essa atitude, Bethânia brinca: "Vocês não vão aplaudir Rosa?!"
Estou perplexa até agora com o que vi. A grandeza de Bethânia é algo fascinate. Em meio a essa admiração, não poderia deixar de escrever, ou melhor, descrever, esse evento tão maravilhoso.