sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Achados

Estavam perdidos,mas agora estão depositados aqui.


A cidade amanheceu dormindo. Ainda está escuro e chove muito lá fora. O vento sopra forte enquanto os moradores das ruas se encolhem sob os jornais úmidos e tentam, em vão, espantar o frio. Janelas e portas se mantém trancadas e o único barulho que se ouve é o dos pingos caindo sobre os telhados. As crianças dormem serenamente, as mães também dormem, mas preocupadas em planejar o dia que vai chegar com esta manhã. Os pais roncam alto, parecem não se preocupar com nada. A chuva continua forte e a enxurrada leva toda a sujeira das ruas que logo é substituída pelas folhas e flores que se desprendem das árvores. Os primeiros pássaros ensaiam um canto tímido, enquanto os mais preguiçosos continuam escondidos entre os galhos, em silêncio. Cães e homens disputam o pequeno espaço embaixo das marquises. O silêncio é então interrompido pelo primeiro barulho de motor. Um fusca velho segue em direção à estrada. O cheiro da chuva logo e apagado por um forte cheiro de café novo. A cidade, então, lentamente, acorda. O canto dos pássaros, agora, é uníssono e alto. As primeiras janelas se abrem, mas com o frio, logo são trancadas novamente. Algumas luzes já podem ser avistadas. Crianças choram enquanto as mães preparam o café da manhã. Televisões estão ligadas e os pais, sérios, prestam atenção às primeiras notícias do dia. A chuva continua forte. As portas são destrancadas e mulheres saem deslumbrantes em seus vestidos. A cidade é tomada pelo colorido das sombrinhas e guarda- chuvas. Vermelhos, amarelos, rosas. As ruas estão tomadas por rodas e sapatos. O silêncio não mais se ouve. Cães e homens são expulsos das marquises. Buzinas, gritos, música. A cidade que amanheceu dormindo já se encontra de pé.

Nenhum comentário:

Postar um comentário