Estou muito triste. Descobri que não nasci para cozinhar. Por mais boa vontade que tenha, não consigo cumprir à risca nenhuma receita. Por mais que esteja tudo lá, bem escrito, explicado, indicando como se faz, parece que uma força maior me empurra para o caminho contrário e me obriga a fazer de um jeito diferente. Mais uma vez me frustrei. Hoje, na tentativa de fazer um pão de queijo. Receita simples que eu não consegui cumprir. Um ovo a mais e a massa desandou. Era para o café, para impressionar as pessoas que amo. Era para me satisfazer, mas, mais uma vez, não deu certo. Então, enquanto mexia a massa com raiva, percebi que cozinhar não é nada além do que o reflexo de minha própria vida. O cheiro forte do queijo, o leite milimetricamente derramado e basta um ovo a mais para acabar com tudo. O mesmo ovo que é símbolo de vida. A chuva caia enquanto eu seguia na tentativa de acertar. A receita estava lá, me mandando fazer, me mostrando o caminho para a felicidade e eu simplesmente não consegui seguir. Um único caminho errado e minha vida se misturou àquela massa mole, de cheiro forte, gosmenta. E quanto mais eu afundava minhas mãos para alcançá-la, mais ela escorria por meus dedos. Então parei. Desisti. E tive raiva por desistir tão cedo. Uma última tentativa de reparar o erro. Um estrondo! A televisão queimou e junto com ela, a felicidade mais uma vez fugiu. Por que não segui a receita? Mas a chuva parou. O calor do forno alimentava a esperança. E aí deu certo. O pão de queijo deu certo. A vida deu certo. Cresceu, tomou forma, adquiriu consistência, cor... Mas faltou o sal. Eu sabia. Continuou incompleta, longe. E eu só dando voltas, desviando, fugindo dela. Mas por que eu não segui a receita? Porque não existe receita. Eu sou a receita. Errada. Errando. Para acertar. Um dia, quem sabe. Não nasci para cozinhar, mas me desculpe, tenho um enorme talento para a felicidade. Só não sei como chegar lá. Ainda.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
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